Para os autores, esta é uma história de iniciação, sendo a religião o personagem principal, utilizada como desculpa para desmandos e atrocidades, traições e escaladas ao poder, num mundo desacorçoado por mudanças repentinas. Sua intenção ao escrever o livro era a de «refrescar a memória da loucura», uma reflexão sobre o fracasso da religião como justificação do poder de um homem, como vemos ainda hoje, neste nosso mundo coberto de guerras religiosas.
O ápice do romance se dá com a instituição do reino messiânico de Münster, nascido de um grupo de anabatistas, hereges que viviam em comunidade, no o real sentido da palavra, uns ajudando aos outros, constituindo uma pequena ilha de tolerância no mar agitado das guerras entre cristãos e protestantes de várias vertentes. A história encontra um de seus momentos mais interessantes no retrato da degradação desta comunidade, com o aparecimento de um líder de moral escusa, mas belo e carismático. (estranho como essa história se repete…)
Além da bela descrição da Alemanha do século XVI, Luis Astorga e Fran Zabaleta se destacam por criar personagens e situações de uma realidade e profundidade impressionantes, com tantas matizes que, apesar de nos identificarmos com facilidade a Hans, Paulette e Baltasar, não podemos dizer realmente quem são os “maus” nessa história. Se é que pecam em alguma coisa, não é no maniqueísmo.
Luis Astorga é homem do mar, e Fran Zabaleta é historiador e geógrafo, e juntos, após 5 anos e mais de 1600 páginas no manuscrito original (magicamente resumidas para 616), nos levam aos recônditos mais escuros da história da religião, seus miasmas e pústulas, e do absurdo de certas reações humanas aos mais diferentes ideários. Um belo relato do supra-sumo da ignorância religiosa.